A importância do Projeto de
Segurança Contra Incêndio e Pânico no Brasil é estimável, em sua competência
estão relacionados aspectos relativos à prevenção e combate contra o fogo,
sendo que para elaborá-lo, deve-se atender uma série de normas técnicas a nível
federal que é o caso das ABNT NBR e os IT’s (Instruções Técnicas) legais
vigentes em cada estado, uma vez que os mesmos são fiscalizados, comentados e
aprovados pelos respectivos Corpos de Bombeiros de cada estados.
Tratando-se da elaboração desta
categoria de projeto, também são levadas em considerações as antigas
edificações que fazem parte do rico patrimônio histórico brasileiro, como era
pra ter sido o caso do Museu Nacional gerido pela UFRJ na cidade do Rio de
Janeiro, que iniciou o mês de setembro de 2018 consumido pelas chamas. Além da
destruição do prédio, o local abrigava um Museu Natural que continham as mais
diversas relíquias e obras de arte, além do acervo e documentos da família
real, antigos moradores do palácio.
(Foto: OGlobo)
A causa do Incêndio não foi
diagnosticada até então, mas os noticiários relatam que à aproximadamente um
mês, foi realizada uma denúncia junto ao Ministério Público Federal (MPF), onde
um Arquiteto relatava as precárias instalações elétricas prediais e alertava
para a possibilidade de um incêndio.
(Foto: Reprodução)
Através do noticiado no dia
04/09/2018 pelo G1 e das denuncias feitas contra a administração do Museu,
vamos comentar e indicar uma sucessão de erros que possivelmente podem ter
acarretado na destruição de um patrimônio da humanidade:
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
A causa de incêndio mais comum no
Brasil é iniciada por apenas um curto circuito, gerado pelas más condições das
instalações elétricas, esses cabos também quando mal dimensionados pelos
projetistas ou em muitos casos nem projetados, podem superaquecer e elevar os
combustíveis ao redor até o seu ponto de fulgor que sob a irradiação pode
iniciar uma chama.
Os fios estavam à mostra e em
péssimas condições de uso, muitas paredes eram revestidas por tecidos e a
quantidade de madeira no palácio era incalculável, combustíveis sólidos, com
alto teor inflamável.
EDIFÍCIO NÃO ASSEGURADO
Você deve estar se perguntando o
porquê deste tópico, não é mesmo? Pois bem. Assim como o carro, ao assegurar um
bem, o mesmo é vistoriado para saber das suas condições; com os edifícios, indústrias,
comércios, entre outros, é a mesma coisa, entretanto, a seguradora geralmente
só se dispõe a proteger o local uma vez que o mesmo é aprovado em sua vistoria,
visto que é um prédio de importância mundial e um patrimônio histórico,
geralmente as seguradoras neste caso são internacionais e com isso, as Normas
Técnicas de Proteção e Combate e Incêndio também. Sendo assim, mesmo com o
Projeto aprovado no Corpo de Bombeiros e licença em mãos, ainda é muito baixo o
nível de proteção. As normas
mais importantes desta
área são:
- NFPA 909 – Standard for the protection of cultural resources.
- NFPA 914 – Fire safety requirements for the protection of historic structures and for those who operate, use or visit them.
- NFPA 2001 – Standard on clean agent fire extinguishing systems.
SITUAÇÃO IRREGULAR DO PRÉDIO
O edifício também não estava
regularizado e com o seu alvará de funcionamento licenciado, isso mostra que o
mesmo não atendia aos aspectos mínimos de segurança, oferecendo um grande risco
aos funcionários, visitantes e ao acervo. Permanecer com o edifício aberto ao
público foi de uma grande irresponsabilidade da UFRJ, liderada pelo então
reitor Roberto Leher e pelo diretor do museu, Alexander Kellner.
(Foto: OGlobo)
“Um incêndio dessa escala, e a realidade infelizmente demonstrou isso, precisava de intervenções sistêmicas.” – Roberto Leher
Não podemos tratar como
sorte, mas por grande ventura, o incêndio aconteceu na madrugada de um domingo,
havendo apenas alguns vigilantes do local que não se feriram.
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
ATUALIZADO (ARQUITETURA)
Este documento licencia o
bom estado das estruturas e instalações do local. Neste laudo, a arquitetura é
avaliada como um controle de acabamentos e o emprego de materiais inflamáveis
no edifício. Este museu não havia conquistado tal Certificado de Aprovação dos
Bombeiros. Nem mesmo o edifício em seu projeto de arquitetura estava de acordo
com as normas, quem diria então, o atendimento aos requisitos técnicos de incêndio.
Num total descaso pelo patrimônio e segurança dos usuários.
MATERIAIS INFLAMÁVEIS NO
INTERIOR DO EDIFÍCIO
Devemos alertar à situação de risco que talvez possa ter culminado na
combustão do prédio; utilizaremos como parâmetro a IT 40/2018 do Copo de
Bombeiros de São Paulo, uma vez que as normas técnicas dos Bombeiros do Rio de
Janeiro não são claras. Esta norma estabelece parâmetros quanto ao uso de
inflamáveis e combustíveis. Veja na imagem o que se diz na norma no item 6.
(Foto: IT 40/2018 - CBMSP)
Esta Instrução Técnica ceda o armazenamento de inflamáveis e
combustíveis no interior do edifício e quanto ao uso desses combustíveis em
operações de restauros, devem ser armazenados em pequenos recipientes e
guardados em armários metálicos, dentro de salas compartimentadas, ou seja,
salas protegidas com paredes e portas anti-chamas.
PRESSÃO NÃO SUFICIENTE NOS
HIDRANTES
Entre todos os assuntos
tratados, este sim resultou na difícil atuação dos bombeiros contra as chamas.
Muitas vezes os hidrantes são esquecidos e apenas lembrados no pior momento,
como foi o caso desde incidente; ao chegarem no local, a equipe de emergência
constatou que não havia pressão suficiente nos hidrantes, erro que pode ter
sido causado pelo mal dimensionamento da linha, sucateamento da mesma e/ou
problemas técnicos da equipe. Contudo, por esse ocorrido, perderam-se 30min de
ação, que ajudou na propagação das chamas e que deixaram a formação da brigada
de mãos atadas.
Levando em consideração que o
Museu Nacional tem 13.616,79m², área que consta no site oficial do local e
também, utilizando as Instruções Técnicas de São Paulo (as mais creditadas do
país):
- IT 14/2018 - Carga de incêndio nas edificações e áreas de risco.
Trata sobre a classificação das instalações, ela nos define dois itens importantes, a carga de incêndio e a quantidade de MJ/m², índices necessários para o dimensionamento dos hidrantes.
Divisão: F-8 / Carga de
Incêndio: (qfi) de 300 MJ/m²
(Foto: IT 14/2018 - CBMSP)
- IT 22/2018 - Sistemas de hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio.
Já esta norma tratará dos requisitos mínimos para o atendimento de vazão e pressão mínimas através do Tipo de Hidrante.
(Foto: IT 14/2018 - CBMSP)
Nesta tabela enquadramos a
classificação da Instalação F-8 com a área quadrada do edifício e localizamos
que o Hidrante deve ser de Tipo 2 com Reserva Técnica de Incêndio (RTI) de 25m³
(25 mil litros de água destinada para incêndio).
(Foto: IT 14/2018 - CBMSP)
Já nesta outra tabela
conseguimos perceber que a norma exige uma vazão mínima no hidrante mais longínquo
da bomba/queda d’água de 150 litros por minuto numa pressão de 30 metros de
coluna d’água.
Através de todos estes
pareceres, podemos concluir que o incêndio ocorrido no Museu Nacional ocorreu
através de uma sucessão de erros seguidos pelos mais diversos escalões que
fazem a gestão do mesmo. Faltaram responsabilidade e senso de patriotismo em
permanecer com aquele prédio em funcionamento e atendimento ao público com as
péssimas condições de uso que se encontrava. Os problemas eram dos mais
diversos, desde fios desencapados, sucateamento dos hidrantes, o descaso
governamental e principalmente a má gestão.
Quantos Museus e Patrimônios Históricos brasileiros também não estão
nessa mesma condição de descaso? Quantos mais acervos riquíssimos vamos ter que
perder para nos conscientizarmos sobre a saúde dos nossos edifícios e nos
livrarmos de uma vez por todas do alzheimer histórico nacional, que nos faz esquecer de cuidar e
amar a biografia do Brasil.
Nós da ECOPetrus, nos colocamos a disposição para ajudar a fazer deste
país um lugar seguro.